Os 30 m2 mais acolhedores de Lisboa

Mariana Caldeira Mariana Caldeira
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A arquitetura é capaz das mais inacreditáveis transformações. Sejam elas ruínas reconstruídas como museus, prisões adaptadas a hotéis ou igrejas convertidas em bibliotecas, os arquitetos conseguem sempre ver, num pequeno conjunto de paredes, um número infinito de possibilidades.

É integrado nesta categoria de intervenções inesperadas que hoje seleccionámos um projeto capaz de o surpreender. Um trabalho de composição e sintetização que permitiu transformar 30 m2, não só num apartamento, mas num lar.

O trabalho foi desenvolvido por uma equipa liderada por três arquitetas que se juntaram em 2005 neste atelier de caráter luso-angolano. A dinâmica e entusiasmo com que encaram cada desafio tem levado ao desenvolvimento de todo o tipo de projetos ligados à arquitetura e construção.

Fique a conhecer mais projetos deste atelier aquiaqui.

Contexto

Situada na região mais ocidental da capital portuguesa, o apartamento intervencionado é envolvido por espaços predominantemente residenciais, maioritariamente construídos a partir da década de quarenta. Apesar de ligeiramente afastada do centro da cidade, a freguesia da Ajuda beneficia da sua proximidade às áreas ribeirinhas de Belém e à serra de Monsanto, sem prescindir da sua dinâmica de bairro relativamente pequeno e sossegado.

Intervenção

Dadas as dimensões do apartamento, a intervenção na criação de duas áreas fundamentais. A entrada na esfera social da habitação é feita imediatamente a partir da porta de entrada da casa que, apesar de integrarem diferentes funções, funcionam em open space. A delimitação dos espaços que pressupõem um maior grau de intimidade é feita através de uma estante, capaz de simbolizar esta charneira sem compartimentar excessivamente a casa.

Público

A zona social da habitação foi desenhada de modo a equilibrar a necessidade de criar uma atmosfera acolhedora, fundamental a qualquer ambiente familiar, com o minimalismo necessário à ocupação de uma área pequena. Sendo assim, a estratégia ao nível da decoração incidiu sobre a escolha criteriosa de um número pequeno de peças, garantindo que cada uma telas contribuísse para o caráter final do espaço, sem o afogar em informação desnecessária.

Cozinha

Se na zona de estar havia um jogo entre diferentes abordagens, a cozinha foi totalmente revestida de minimalismo. Ocupando apenas uma pequena parede, esta área materializa-se através de móveis totalmente brancos e algumas fontes de iluminação artificial que, em conjunto, conseguem multiplicar a sensação espacial. 

Privado

O grande desafio nos interiores do quarto e casa de banho foi a necessidade de criar uma atmosfera mais íntima, sem recorrer a barreiras físicas (paredes e portas) que a assegurassem. O ambiente tranquilo e resguardado é composto pela integração de pouco mais que uma cama e alguns pontos de luz artificial que, apesar de compensarem a inexistência de janelas que abram diretamente sobre este espaço, foram pensados de modo a garantir uma iluminação suave a qualquer hora do dia. 

Casa de banho

A casa de banho foi a única área onde se revestiu as paredes com um pouco de cor. A paleta criada entre o azul dos azulejos, a madeira dos pavimentos e o branco das loiças, torna este espaço surpreendentemente acolhedor, num equilíbrio perfeito entre o moderno e o orgânico. Como estratégia de aproveitamento de espaço foram integrados três gestos fundamentais: a incorporação de um grande espelho que desafia os limites do espaço, um polibã em vidro e a sua permeabilidade visual e, finalmente, a porta de correr que permite isolar o espaço otimizando a área útil.

Sintetizar

O resultado final da intervenção desenvolvida vem novamente comprovar que a qualidade de uma habitação pouco depende do número de metros quadrados disponíveis. No desafio apresentado, foi a capacidade de síntese e a vontade de criar um espaço acolhedor que permitiu harmonizar diferentes problemas e qualidades, em 30 m2 excepcionais.

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